Capítulo 2
Cidade de Estremeiras, localizada à extremo sudoeste da cidade central, foi nessa cidade que avistei pela primeira vez o grupo de aventureiros que, de alguma forma, me fixou a continuar observando a trilha em que eles percorriam.
Eram um grupo razoavelmente grande, composto por um espadachim muito orgulho, por um arqueiro cheio de ideais, por um ferreiro e por mais duas mulheres – que eram incrivelmente belas - , uma cientista um tanto quanto fanática e uma aprendiz de magia negra. Pareciam como qualquer outro grupo que perambulavam por ai em busca do Fragmento do Abismo. Exato! O Fragmento do Abismo é o artefato que as profecias dizem poder reconstruir o espírito desaparecido. Seria muita imprudência de aventureiros saírem por ai sem ao menos a mínima idéia do que procurar para alcançar a paz e glória ao mesmo tempo, coisas extremamente difíceis para um ser humano, até mesmo para os Vier Ellementari – Os Quatro Elementares.
Para ser sincero, nem mesmo os espíritos de Darknessluce conseguiam essa façanha. Era algo intimidador até mesmo para seres sem corpos físicos como nós. No entanto, existe uma lenda dos Drei Neutrale – Os Três Neutrais – a respeito da conquista da paz e da glória ao mesmo tempo, coisa que eu realmente acho difícil de comprovar. Apesar de ter dito que era onisciente de tudo que acontecia acima de mim, acabo me perdendo no enigma dos Drei Neutrale. Eles são tão poderosos que chegam a nem existir fisicamente no mundo. São como espíritos, mas muito mais poderosos, pois podem agir diretamente como seres humanos.
Voltando a pequena cidade de Estremeiras, presenciei o primeiro diálogo do grupo na cidade. Quando Jeck falou:
- Pessoal, ta começando a ficar escuro, melhor procurarmos alguma taverna próxima que possa nos hospedar.
- Não brinca, Jeck! Descobriu isso sozinho? – Disparou Amerina, a aprendiz de magia negra, que em suma, costumava ser extremamente indelicada quando se tratava de coisas um pouco óbvias demais. O que ela tinha de bonita, tinha de arrogante pra esse tipo de coisa, o que posso te confirmar que a sua arrogância não era pequena!
- Vamos relaxar um pouco. Afinal estamos em Estremeiras! A cidade do comercio! Isso me deixa excitado só de pensar. – Barduck tentou acalmar os ânimos só um pouco, apesar de estar agitado demais. Barduck é um ferreiro, então estar na cidade de Estremeiras significa variedade em metais, Cidade do Comércio.
- Ah! Não enche o saco, Barduck! – Retrucou novamente Amerina.
- Por favor, amores. Acalmem-se! O Kelik achou um lugar para a gente passar a noite! – Exclamou Lunia, a cientista que podemos classificar como curandeira das boas. Ela era sempre gentil e carinhosa com todo o grupo, o que refletia na sua imagem angelical.
- Sigam-me, é bem perto daqui, já estive nessa cidade antes de me juntar a vocês. – Falou calmamente Kelik. Ele era o mais velho do grupo, e com a idade carregava mais experiência e um tipo de responsabilidade sobre os outros do grupo. Podemos dizer que era como um pai.
O grupo seguiu caminho adentro na Cidade do Comercio, que em plena vinte e uma horas do dia tinha uma diversidade amedrontadora de lojas, quiosques, bares, restaurantes, museus e, claro, tavernas abertas. O grupo logo alcançou Kelik que já tinha feito algumas amizades no local anteriormente e tinha um pouco de influência, além do mais, eles não estavam com as melhores situações financeiras para ficar em uma cidade tão almejada por aventureiros sem um pouco de influência e pechincha no meio.
- Olá! Quanto tempo não é, Estevan? – Gritou Kelik logo ao abrirem a porta da taverna.
- Olha! Quem é vivo sempre aparece! Como vão as coisas, Kelik? Algum progresso? – Perguntou curioso Estevan, o dono da taverna.
- Estamos quase conseguindo a autorização para sair dessa área, o sudoeste está pequeno demais para o nosso grupo. – Falou Kelik calmamente.
- Hum! – Disse Estevan em um tom sutil. – Pelo visto você andou fazendo amizades. Quem são?
- Ah! Esqueci de te dizer? Já estou no grupo deles faz algum tempo. Aqui vou apresenta-los. Ei! Pessoal, vem cá! – Gritou Kelik para que o grupo se aproximasse.
Após as apresentações, percebi que o grupo estava realmente cansado, haviam percorrido todo o Estreito do Vazio. O Estreito tinha esse nome exatamente porque não havia nada nele a não ser terra! A vida lá era extinta, era impossível a sobrevivência de animais ou monstros naquele local. A temperatura era sustentável, a única coisa que tornava o lugar vazio era a falta de fertilidade na terra, que em sua maioria era rochosa. Além desse fator, o Estreito era um labirinto de rocha que fazia qualquer monstro se perder em poucos instantes.
Voltando a nossa pequena, mas confortável taverna. O grupo já havia conversado bastante no bar, os rapazes beberam bastante, principalmente Jeck. Ele até poderia ser um espadachim orgulhoso, mas era um bebedor de primeira. Nada escapava a sua boca e nem ao seu nariz, isso é, quando se tratava de bebidas.
Todos se encaminharam para os quartos satisfeitos. Os três homens ficaram em um quarto e as duas garotas em outro. Por mais que a taverna parecesse simples, transparecia um clima magnífico dentro dela, todos os aposentos eram levemente iluminadas por uma luz alaranjada, o que dava um tom luxuoso até demais. Fora isso, o bar era calmo na medida do possível, e havia uma incrível terma nos fundos, e claro, ela era separada, homens de um lado, mulheres de outro.
Antes de irem dormir, todo o grupo, sem exceção, resolveu se banhar na terma. Era tarde, e não havia mais ninguém fora eles no banho. Já havia dito a vocês que Barduck, embora fosse o cara mais comportado em termos de ética, era um baita de um tarado?
Creio que vocês já tenham imaginado a cena do Barduck tentando espiar as garotas por cima da separação da terma, feita de bambu.
- Psiu! Acho que a gente devia aproveitar melhor esse banho! – Falou Barduck.
- Não a nada que a gente possa fazer a não ser relaxar, ou... Não me diga que você está pensando em fazer aquilo de novo, Barduck? – Disse Jeck desconfiado, mas com um sorriso torto no rosto.
- Claro, daquela vez eu apenas errei na hora de abrir a porta do guarda roupa e...
- E elas nos pegaram e eu levei a culpa de tentar a espionagem – Disse suspirando, Jeck –, fora que ainda estou com a dor na orelha depois que a Amerina nos surrou por ter feito aquilo.
- Tá dentro ou não? – Falou decidido Barduck.
- Mas é claro que sim, você acha que eu ia perder uma chance dessas? – Jeck estava com um brilho extravagante nos olhos quando exprimiu e essa frase.
- E você, Kelik?
- Não quero morrer ainda, prefiro viver mais alguns anos. – Confirmou Kelik. Ele realmente tinha toda a razão.
Os dois trapaceiros começaram a escalar o bambu, quando chegaram na parte mais alta, quando estavam prestes a olhar para a terma feminina, quando...
- AHHHHHHHHHHHHHHH! – Brandiu Jeck enlouquecido. – É tudo culpa sua! Era pra gente ter confirmado se elas ainda estavam nas termas. Subimos tudo isso e nem sinal delas aqui, a terma está vazia.
- Droga! Perdemos de novo! – Falou Barduck, muito mais ofendido de não ter visto Amerina e Lunia do outro lado do que com os insultos desesperado de Jeck.
Os três voltaram para o quarto, Jeck e Barduck vinham trocando tabefes o caminho inteiro, chegaram até a quase quebrar uma das luzes do corredor, até que Kelik ameaçou de contar as meninas o que havia acontecido nas termas, os dois pararam a briga no mesmo momento. Apesar de não parecer, eles ainda prezavam um pouco a vida.
A noite apenas caiu como um trovão. No fim, eles já estavam na cama, todos eles. Aproveitando, o que eu poderia classificar como a ultima noite que eles passariam em paz, logo as trevas amanheceriam com o sol, nostálgico demais para acreditar...